quinta-feira, maio 29, 2008

A alma foge das mãos, como se até ela rogasse escapar subtilmente às amarras que lhe prendem as asas e não a deixam chegar onde pertence, de onde a arrancou o coração, como que a uma erva daninha.
Coisa estranha o coração, que não deixa transformar sentimentos em palavras, com medo que isso nos deixe mais frágeis, ignorando, como se sórdido pormenor se tratasse o facto de já estarmos partidos em milhões de pedacinhos. Só os olhos arrancam ao mais fundo da gente aquela verdade que às vezes o próprio ser se esquece que existe. E quando tudo não é mais que mentiras e subterfúgios pegados, há olhares que não deixam mentir…
Chorar? As lágrimas já caíram todas e julgo que, até aí, a seca que percorre cada centímetro de corpo já chegou, por isso liberta finalmente o coração das palavras que faltam ser ditas, antes que morra o pouco de humanidade que resta.


"Larga o que te tornaste e faz-te tu por uns segundos..."

quarta-feira, maio 14, 2008

:(

As palavras e os livros desvaneciam-se pelo pó que teimava em acumular no chão, o quarto jazia numa desarrumação crónica, num abandono que não disfarçava a tristeza k se sentia no ar. Sentado numa cadeira distingue-se, a custo, um corpo prostrado, parte integrante daquele quarto, como se fosse apenas mais um objecto, sem sonhos, sem alma…
Olhava fixamente para a chuva a beijar a janela, muito pouco já lhe importava além destas coisas. O vidro, a janela, a chuva… Aquilo que ainda lhe trazia a paz de espírito para sobreviver.
O olhar, era um olhar de fim do mundo, daqueles fixados em tudo e em nada, daqueles que tocam o horizonte, com a pena de não ficar e a necessidade suprema de ir. Na face perdeu a habilidade de sorrir, nem o mais furtivo dos sorrisos conseguia hoje penetrar na muralha que erguera em volta de si. O rosto era fechado, frio, triste… E havia soluções sim, não que ele pedisse algum Santo Graal. Apenas que a gente se portasse como tal e que as palavras que se dizem, fossem mais do que simples sons atirados para o chão, como um simples pedaço de lixo. Talvez fosse pedir demais, que a sede de realização de alguns não se limitasse a causar sofrimento a outros

quinta-feira, maio 08, 2008

Um pouco (mais) de céu

E a lua despiu-se a seus olhos, toda a sombra se desvaneceu com a visão desconcertante de uma lua tão próxima, que a sua textura quase acariciava os dedos paralisados pelos raios de luz.

- Todos quiseram sempre chegar lá onde eu moro, onde as estrelas conversam sem pudor sobre milhões de anos passados e os cometas deslizam pelo céu em círculos, sempre misteriosamente apressados por motivos que ninguém sabe, nem se atreve a perguntar.
Eu… trocava esse sonho de tantos pelo prazer terreno de ti, de te ter nas mãos e sonhar contigo algo mais do que noites sem fim a olhar o nada, pensando como é que tantos milhares de quilómetros de completo e insondável vazio transformam numa utopia um simples tocar de mãos.

E chorou… Nunca se havia visto antes as lágrimas de um astro, eram lágrimas de luz, de uma transparencia que cegava quem se atrevesse a deitar-lhes um simples olhar. As lágrimas caíram em cima dele criando uma orla brilhante que só o amor conhece. E quando todo ele era luz, o mundo deixou de ser seu. Como que por magia o seu peso, simplesmente, desapareceu e planou, por tempos incalculáveis até ao lado dela. Deixou de ter nome, idade, tudo se havia perdido excepto a memória.
Agora, de dia olha o seu mundo, como dantes fazia, durante noites sem fim a olhar a lua. Às vezes quando as saudades superam o amor, foge para trás das nuvens para chorar escondido. E chove... Mas todas as noites, as saudades valem a pena, fica pertinho da lua e amam-se como nos sonhos que tinham.
Por isso é que se diz que as lágrimas nos protegem e nos ajudam a curar as dores insuportáveis no coração, por isso é que por amor se vai mais longe que o fim do mundo e por isso é que a noite é o território dos amantes.

sábado, maio 03, 2008

Um pouco de céu...

Tenho saudades…
Saudades do pedaço de mim que me falta
Saudades dos tempos de rir.
Daqueles sorrisos que nem o medo descalça
Saudades de ver o sol da varanda,
Quando o chão não pedia para cair…
Saudades do tempo em que sonhava, dormia.
Hoje apenas durmo.
Mas vou tornar a ser.
Ser daquela gente que vive cada dia.
Deixar de ser Morto, taciturno.
Voltar a olhar o sol de frente,
A olhar-te de frente,
Com olhos de quem sabe ser mais,
Com a força que não viste,
Ou não quiseste.
Com a paixão de um beijo nos umbrais,
E a loucura saudável da peste.
E na face, nem mais uma gota de sal
Por quem não merece.
Abriu-se espaço em mim,
Morreu “gente” no meu peito.
Não cumpro luto só por ser normal.
Chamarei gente, sem aspas, sim,
Que não me queira por birra,
Que não me queira perfeito…