segunda-feira, outubro 23, 2006

Confissões

-Posso chorar? Não posso estar sozinho... Parece um capricho não é? Ter medo de estar apenas sozinho a ver televisão ou ler um livro, é assustador... Mas acontece quando se põe tudo em causa... O curso, a cidade, o amor, os amigos, até a própria vida. Só a família fica como que um abrigo no meio do apocalipse, mas parece-me pouco, tão pouco... Apetece-me voltar a casa, ao berço, ao regaço de quem sei que nunca me vai faltar, apetece-me fugir! Chamem-me cobarde, mas é ou fugir, ou morrer...


"It feels like I've buried underneath all the weight of the world..." 3DD

sábado, outubro 07, 2006

Era um dia normal na vida de uma pessoa absolutamente normal, como normalmente fazia saiu à rua de manhã, estava sol... Sorriu. Foi a pé para o trabalho como sempre fazia, gostava de verificar que o mundo continuava a girar para o mesmo lado e não tinha pressa de chegar a um emprego que lhe consumia o corpo e até, por vezes, a alma.
Andava devagar como convinha a um corpo a quem o sono não tocava à vários dias, ao deparar-se com uma esquina que sempre ali estivera teve um pressentimento, mas como era costume com estas coisas não ligou, era um céptico.
Depois dos 90º que lhe iriam mudar o dia (a vida?), acercou-se de uma multidão de pessoas que se amontoavam no passeio, como se ali morasse o Santo Graal ou a Pedra Filosofal. Ao contrário de todos os padrões de comportamento que apresentou toda a vida, sentiu que algo o sugava para o cerne daquela multidão, logo ele que tinha pavor às pessoas... Quando, qual herói, conseguiu abrir caminhos pelos corpos comprimidos, viu aquilo...
Um anjo, ou pelo menos aos olhos dele era, comprimido contra o chão, como se a Gravidade quisesse brincar, qual criança entediada, com o poder absoluto que lhe haviam dado sabe-se lá porquê. Vestia de branco como convinha aos anjos, mas o que o chocou mais foi a face, era bela, mas não era isso... Ele conhecia aquele olhar, aquela expressão, a morte naqueles olhos consumia-o todos os dias, a tristeza da expressão que se lhe deparava era a sua perdição de uma vida. Porque é que saltaste? A pergunta baqueava na sua cabeça como um martelo que o mutilava com uma frieza sem par... Não era ela, mas e se fosse? Ele tinha medo.

Entretanto começou a chover...

"Could it be that the world disappears when we close our eyes?" Memento (adaptado)